sexta-feira, 2 de julho de 2010

Reencontro



Há quatro décadas atrás, na casa de meus avós paternos onde cresci, trabalhou uma moça de seus vinte anos na época de doméstica. A Cícera.
Ficou conosco por dez anos, saiu do emprego para casar e constituir família.
Uma pessoa querida, amorosa, íntegra. Além de fazer todo o serviço que não era pouco, pois éramos seis no apartamento. Ela ainda encontrava tempo para cuidar de mim e de meu irmão.

Depois que nos deixou, nunca mais a vi.
O tempo passou, me mudei de São Paulo para Campo Grande, meus avós faleceram, o apartamento foi vendido, meu irmão foi morar com nossa tia. Nós dois cursamos a faculdade e nos formamos. Uma pequena linha do tempo.

Semana passada recebi um recado pelo meu perfil, num site de relacionamento. Era de uma moça que procurava por mim e meu irmão, sabia nossos nomes completos e do parentesco de tias, avós.
Se apresentou como filha da Cícera, contou que sua mãe trabalhou em nossa casa, deu detalhes da época. Atualmente com 69 anos sua mãe sente saudade, pensa no passado. A filha se prontificou a nos procurar na internet. E nos achou!
Li o relato, surpresa e ao mesmo tempo emocionada, por ter sido "pescada" naquele mar de gente. Nem minha foto tinha no avatar do perfil, apenas um apelido, seguido do sobrenome.

Respondi imediatamente, confirmei que eu era eu. Fiz uma avalanche de perguntas, queria mais notícias da Cícera, nunca me esqueci dela. Pedi telefone de ambas, e-mail, mandei o meu junto com endereço, e-mail. Informei telefone e endereço de minha tia para entrarem em contato, já que moram na mesma cidade. Enviei fotos atuais minha do meu irmão e de minha tia.

Aguardei a resposta ansiosa no dia seguinte, mas não veio.
Escrevi mais duas vezes e nada de resposta, passaram-se uns cinco dias, já estava perdendo a esperança.

Finalmente hoje recebi outro recado, dessa vez com o telefone para contato. Ai que alegria, agora podia falar com a minha bá.
Esperei dar oito horas da noite e fiz a ligação. No "alô" reconheci a voz imediatamente, era a Cícera.
Falei: - Cícera, você não vai acreditar com quem está falando!
Ela disse rindo: - Ai meu deus quem será?
Falei meu nome esfuziante, ela também vibrou de felicidade do outro lado da linha.
Foi a hora da saudade, das perguntas sobre a família, de contar rapidamente o que se passou em quatro décadas comigo e com ela. Foi uma festa!
Depois listei o obituário da família, cada nome que eu falava a Cícera se lembrava da pessoa, contava episódios que lhe vieram a mente.

Enfim, ela teve duas filhas, está bem de saúde, aposentou-se.
Continua brejeira como sempre foi, saudosa e feliz.
Dei meu telefone e o de minha tia para anotar e ligar quando quiser.
Ai que saudade, vontade de abraçá-la.

Bendita internet!

2 comentários:

  1. Oi Vera,
    Ainda acontecem destas coisas bonitas na vida! Vai sendo raro, mas felizmente ainda existem domésticas(nós chamamamos empregadas domésticas), que durante um certo tempo trabalharam para uma família e ficaram sempre ligadas por um sentimento de ternura.

    Gostei muito do seu artigo que mostra uma família que soube fazer-se amar e de uma mulher que se sentiu feliz na casa dessa família.

    Um belo exemplo!

    Abraços.

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  2. Oi Joseph.

    Sim ainda acontece, mas é muito raro.
    Hoje em dia acredito que não existam mais empregadas domésticas desse naipe. Um pena.

    Abraços

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Passo-lhe a palavra.